quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Ficar grávida é chato...

Taí uma verdade que ninguém admite: ficar grávida é chato. MUITO chato. Sei que muitas pessoas se espantam e há até uma certa rejeição quando se fala isso. "Credo! Se você rejeita a gravidez você rejeita a criança! Como pode?? É um momento mágico..." e blábláblá whiskas sachê. Hunf! Balela. É chato SIM! Por quê? 

Primeiro: o choque inicial. A menos que vocês estejam tentando há tempos, uma gravidez SEMPRE vai pegar de surpresa. Dane-se que já está sentindo os enjôos matinais, as tonturas e as dores estomacais. O primeiro choque é quando o exame comprova o que a menstruação atrasada já avisava. DAÍ é contar pra todo mundo - outra encheção. Porque vai ter sempre alguém metendo a mão na tua barriga que ainda não apareceu dizendo que já tinha percebido que você JÁ está gorda. E os enjôos... ah, os enjôos...! A mágica de acordar de ressaca durante pelo menos três meses...! Fora que qualquer coisa que caia no estômago tem a grande possibilidade de ser vista saindo - ou seja, sente o mesmo gosto duas vezes: na ida e na volta. Pelo menos essa parte eu não tive - sem enjôos! Yey!

Daí a barriga começa a crescer. E as pessoas perguntam de quanto tempo você está grávida."JÁ VIU O SEXO DO BEBÊ?" Não, ainda não deu. "COMO ASSIM???" É como se fosse o maior pecado você ainda  não saber se o feto é do sexo feminino ou masculino. Pior quando dizem que não querem saber "pra fazer surpresa". Aí é declarada a Terceira Guerra Mundial, a volta de Hitler, o apocalipse zumbi e um show de funk tudo no Itaquerão com a torcida do curíntcha berrando nas arquibancadas. E tentam de todas as formas convencer os futuros papai e mamãe que SIM, eles TEM que saber o sexo do bebê pra poder decorar melhor o quarto e comprar OU tudo azul OU tudo rosa. Como se o bebê fosse se importar de estar usando um conjuntinho verde. "Essa cor não me favorece", talvez pense. 

E a escolha dos nomes...! Você tenta escolher um nome bonito e chega em um acordo com seu cônjuge pra depois vir o filho de uma rapariga aleatório e apelidar teu filho. E pior: o apelido pega. 
Fora as tias, avós, bisavós ou qualquer parente sem noção que brotam das profundezas do escambau pra dizer que o nome que você escolheu é feio. Ou pior: pegam o nome e registram o filho que até dois minutos atrás estava sem nome. Você está em desvantagem porque a desgraça pariu primeiro.

As compras é outra parte desastrosa. Enxoval, berço, roupas de cama, cômoda/guarda roupas, fraldas de pano, cobertores, carrinho, cadeirinha para carro, FRALDAS - e isso vai MUITO!!! Fora a quantidade de sabão em pó que vai gastar. A cada duas horas é uma roupa diferente. Cada mijada, um desastre. Quando faz cocô então, vixe...! 

E no meio disso tudo, tua pele esticando, teus seios inchando (e doendo!!) e de repente você sente algo se mexer na tua barriga. Basta dizer isso em uma sala que TODOS OS OLHARES SEM EXCEÇÃO vão se voltar à você pra ver aquela cena digna do filme Alien. Daí a belezinha se enfia embaixo das tuas costelas. Ah, que gostoso... só que não. Principalmente no meio da noite. Aliás, o sono vem de forma a quase derrubar - prévia para as noites de privação que estão por vir. Fora que dormir com aquele barrigão é um teste de paciência até achar posição. Mas também depois que aprende, um abraço: é aquela posição a noite toda.

"Tá com vontade de comer alguma coisa?" Frase maldita. Tem gente que tem vontade de comer coisas que não está habituado, outras algumas misturas inusitadas. Mas tem gente que extrapola. Já ouvi relatos de mulheres que comeram terra, telha (!), sabonete (!!) e até asfalto!!! Como conseguiu? Aproveitou uma reforma na rua, pediu um pedaço pros trabalhadores, levou pra casa, enfiou na panela com água e cozinhou. Depois trocou a água, cozinhou de novo e bebeu aquilo tudo. E-C-A-!-!-! Sim, exagero. Sim, frescura. E tem mulher que acha que o pai da criança é escravo. Esse lance de acordar três horas da manhã com vontade de comer sorvete de pitanga com cobertura de jabuticaba e picles é pura frescura. Sério.

E quando começa a reta final, em que você começa a sentir dores, tem sempre alguém que pergunta se você está ansiosa pra ver a cara do nenê. CLARO QUE NÃO...!! Daí vai pro hospital com dores e descobre que ainda não é hora... e volta pra casa... e volta pro hospital... e volta pra casa... 


Sim, ficar grávida é muito chato. Mas a alegria que o bebê traz ao nascer é tão intensa que você até cogita a possibilidade de passar por isso de novo. Porque ao olhar aquele rostinho miúdo ainda enrugado, ver aquelas mãozinhas tão pequenas e com unhas tão grandes, aqueles pezinhos estranhos e aquela barriguinha inchada, você vê que tudo aquilo que você vomitou, toda a dor que você sentiu e todo o incômodo que você passou simplesmente te trouxeram o ser mais encantador do teu mundo e que você cria forças que você nem sabia que tinha para fazer o mundo se preparar para receber seu tesouro - e lapida seu tesouro para ser recebido de braços abertos pelo mundo. 

Ficar grávida é chato. Muito chato. Mas vale a pena.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Partir dessa para melhor

Estava pensando em como reagimos mal ao luto. Por que é assim?

As pessoas são levadas a acreditar que a morte é uma separação definitiva - tanto que o verbo PERDER é o mais usado. Mas não é.
Durante séculos o conceito do equilíbrio se perdeu. Não há mais aquele respeito pela dualidade de todas as coisas, a não ser que essa dualidade venha de um ser que EXIGE que esse conceito seja respeitado. É triste que apenas se lembrem que existe para servir-lhe a algum propósito.

Quando nos lembramos que para haver vida é necessário que exista a morte, compreendemos melhor quando um ente querido faz a passagem. Quando sabemos que eles ainda nos ouvem, nos sentem e falam conosco como sempre fizeram, a separação dos planos se torna muito pequena. Quando finalmente conseguimos entender isso, aí podemos continuar nossa jornada por aqui até o encontro no plano celestial. E quando isso ocorrer, teremos a certeza de que a separação não foi por tanto tempo assim...

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Tenho orgulho

Tenho orgulho de ser branca. Sim, isso mesmo que você leu. Sinto orgulho da minha cor - ou da falta de cor, como preferir. Sinto orgulho dos meus cabelos lisos, dos meus olhos claros. Sinto orgulho em ser heterossexual. Não preciso de um dia específico para celebrar a mim mesma.
Sinto orgulho em ser mãe. Adoro quando ouço a voz da minha filha, mesmo quando estou de mau humor e ela faz uma traquinagem que me irrita. Adoro sentir o cheiro dos cabelos dela, chamar sua atenção quando não faz a lição de casa ou quando ela se arruma para um passeio. Não preciso esperar o mês de maio para comemorar minha maternidade.
Sinto orgulho em ser esposa. Ainda sinto borboletas em meu estômago quando ouço o barulho do carro quando ele vem para o almoço ou quando sentamos juntos para jogar videogame. Amo-o todos os dias e não somente em uma data específica.
Sinto orgulho em ter irmãos como os meus. Brigamos, rimos, choramos e nos amamos como uma família deve ser. Sinto orgulho de meus pais, eles sempre quiseram meu melhor, ainda que nem sempre conseguissem demonstrar isso de uma forma que eu pudesse entender a real extensão do amor que eles sentem por mim.
Sinto orgulho dos meus amigos. São companheiros para uma vida e a presença deles me faz sentir tão bem...!

Apenas não sinto orgulho de termos que celebrar isso em datas específicas. Temos que comemorar o que somos todos os dias, e não somente quando riscamos aquele dia do calendário. Não devemos nos conter para deixar para comemorar nosso EU quando dizem que é nosso dia. Todos os dias devem ser entregues a quem te faz feliz = VOCÊ. Celebre sua felicidade como se todo dia fosse dia de festa, de parada, de risos. Porque se o mundo tenta te derrubar, só você vai decidir se fica no chão ou dá uma cambalhota para levantar com estilo.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Seria cômico... se não fosse trágico. Será?

Estranho como é a vida - e a morte, principalmente a morte. Em 13 de abril de 2009 escrevi um post sobre a morte, alegando que ela era uma piada de mal gosto. Mentira. Hoje, três anos depois, compreendo que ela é hilária. Sério.
Hoje você posa para uma foto com um amigo. Amanhã ele morre. E aí? Você estava com ele há poucas horas e percebe que nunca mais o verá de novo. Triste? Não. Irônico.
Quantas vezes você evitou esse amigo, sabendo onde ele mora, seu telefone, perfil em rede social, blog, e-mail, local de trabalho e simplesmente o ignorou por completo? Quantas vezes você fingiu indisposição ou saiu com outros amigos porque não estava a fim de papo com aquela pessoa? Pois é. Toda sua grosseria, indisposição e intolerância transbordam enquanto você se dá conta de que não precisará mais buscar desculpas esfarrapadas para não parecer indelicado. Você sentirá falta da encheção de saco daquele que hoje é finado. Aí você vai sorrir daquilo que te irritava, chorar com o que te fazia rir e se culpar por não ter tratado melhor aquela pessoa. Se você soubesse...
Se você soubesse que aquela pessoa iria embora cedo, você teria feito tudo errado. Quem quer ficar perto de alguém que te lembra o tempo todo que você vai morrer em breve?? Você não teria vivido como se o tempo não existisse, como se aquela noite não terminasse, como se a vida não fosse tão... curta.
Você não teria sido VOCÊ. E não pense que enganou a pessoa com suas mentiras estúpidas. Ela sabia de tudo. E mesmo assim continuou a ter amizade contigo, simplesmente porque gostava de você, que entendia sua chatice e respeitava seus momentos de reclusão.
Ainda bem que os Deuses não permitem que a Ampulheta da Vida seja vista por nós. Eles nos deram a oportunidade de cultivar sentimentos que levamos para a outra vida...
Eis a ironia da morte: não é aprender a dar valor aos que se vão, mas sim aos que ficam aqui. Ironicamente você precisa morrer para aprender a viver...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Xuxa e a Pedofilia

A repercussão da entrevista de Xuxa ao Fantástico no domingo (20/05) foi gigantesca, inegável. Uns sensibilizaram-se com o fato da rainha dos baixinhos ter confessado em rede nacional ter sofrido abuso sexual na infancia - citando, sem nomes, os agressores. Corajoso da parte dela, admito.
Mas o que mais chamou (pelo menos) a minha atenção foi a manifestação nas redes sociais com a imagem fatídica do filme em que ela esfrega os seios nus no rosto de... UMA CRIANÇA!! É... irônico.
Meu lado adulto reagiu IMEDIATAMENTE àquela declaração, como assim foi vítima e fez uma coisa dessas por dinheiro e fama?? Inadmissível!!!
Mas o meu lado criança, que ficou durante anos todas as manhãs no “XU-XU-XU-XA-XA-XA É UM JEITO NOVO DE SE DANÇAR“ se recusou a compartilhar uma imagem dessas e compreendeu a mulher que assumiu perante todos que sofreu uma agressão sem chance de defesa - o que provavelmente não foi o caso do guri da cena acima citada, visto que foi necessária a autorização dos pais para a filmagem.
Pela minha infancia sonhando com a nave da Xuxa, cantando as músicas e principalmente pelos Papaquitos (lóóógico...)... eu não aponto o dedo pra essa mulher. Até porque eu sei da minha condição perante o universo e seria muita soberba minha achar que eu teria condições de julgar esse ou aquele ato de alguém cujos pensamentos foram corrompidos para sempre por culpas e sentimentos que não foram causados pelo próprio indivíduo em questão.
Por mais que meu lado adulto não suporte mais assistir o programa da Xuxa, meu lado criança não nega o Xou da Xuxa volume N. E saio pulando por aí cantando em alto e péssimo tom cada palavra da letra. Adoro LUA DE CRISTAL, by the way. =)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Desabafo...

Sinto como se as cores do arco-íris tivessem sido substituídas por um cinza sóbrio e sério. Penso em como seria se você estivesse aqui. Olho para o céu e vejo uma estrela mais brilhante, que não havia lá até você partir.

Muito egoísmo da minha parte, mas não posso aceitar que você se foi. Mas sei que amei você. De longe, guiei seus passos hesitantes em terras desconhecidas. Você achou que era dever. Eu sei que era amor. Você enfrentou seus maiores medos e saiu vivo. Você achou que era coragem. Eu sei que era amor. Você chorou por estar sozinho. Você achou que era solidão. Eu sei que era amor. Mas você descansou. Você não queria, não podia partir sem dizer adeus, mas não houve tempo para despedidas. Partiu e deixou-me aqui para lembrar de você, das histórias que me faziam rir. Deixou-me aqui para lembrar de seu sorriso maravilhoso, sua risada espontânea que convidava quem a estivesse junto a rir também, como se a vida fosse tão bela e deliciosa quanto aquela risada. Seu olhar infantil, apesar da idade adulta, denunciava uma pureza que parecia não querer ser destruída pelos sentimentos que o mundo crescido impunha.

Sinto sua falta, meu amigo. Sinto falta da sua presença. Meu carinho por ti nunca cessou, apesar das tentativas frustadas de sufocá-lo para não chorar mais. Maldito sentimento que se recusa a aceitar sua partida. Maldito coração estúpido que se nega a enxergar a dura realidade e se esconde em um mundo de fantasia onde ninguém pode machucá-lo. Mas uma melodia pode fazer cair por terra essa vã tentativa de fuga e trazer à tona toda a mágoa, egoísmo, saudade, perda e amor que sinto por você. Não é justo. Nunca é. Mas é algo que tenho que aceitar.

Serei uma boa menina aqui para que, quando daqui partir, possa ser digna do reencontro contigo. E por esse dia, eu aguardo quase ansiosamente.

Amar ao próximo como a ti mesmo

Estava ouvindo a "mensagem do dia" ontem pela manhã. O locutor da rádio disse que não era para desperdiçar - sim, ele usou ESSA palavra - com um cachorro. "Ao invés disso, vá à um asilo conversar com os velhinhos, adote uma criança. Jesus não disse para 'amar o seu cachorro', mas sim o próximo. O próximo do homem é o próprio homem".

Discordo totalmente. TODOS os animais merecem carinho, respeito e dedicação. Muito mais minha cadelinha que muita gente.

Aprendi que muitos dos 'pobres velhinhos' abandonados nos asilos pelas famílias estão lá simplesmente porque aprontaram todas e mais algumas quando podiam. A família não é obrigada a agüentar quem só judia. Mas ninguém vê isso.

Os animais são muito mais amorosos - eles não pedem apetrechos tecnológicos de última geração, automóveis, roupas de grife ou sapato caros e muito menos jogam na tua cara que fulano ou cicrano tem isso. Não são viciados ingratos. Eles amam você incondicionalmente. Não troco o cotoco abanando da minha cadelinha - acho ultraje cortarem rabo de cachorro, mas quando ela veio já estava assim... -  por nada. A alegria com que ela me recebe sempre quando volto pra casa - tenha eu ficado fora por 5 minutos ou 5 horas -, o aconchego quando estou triste, as carinhas fofas que me fazem vomitar arco íris, as risadas da minha filha quando elas estão brincando... NADA disso é desperdício.

Um conselho para aqueles que seguem a palavra de Jesus: o próximo não é aquele que está perto ou que é humano. É aquele que AMA, que VIVE. Não importa a espécie, TODA FORMA DE AMOR É VÁLIDA.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Círculo vicioso

O assassinato do cinegrafista Gelson Domingos reforça meu repúdio às reportagens que exibem todo o poderio bélico dos meliantes. Esses profissionais arriscam a vida diariamente na linha de tiro dos bandidos financiados por imbecisi como aqueles vândalos que ocuparam a reitoria da USP pedidndo a saída da polícia do campus para que possam continuar na ilegalidade de seus cigarros fétidos que os torna importantes o suficiente para execrar aqueles que dão a vida diariamente para salvá-los de sua própria estupidez.
Pessoas que quebram portas, estragam equipamentos, picham paredes, preparam coquetéis molotov, estouram viaturas policiais para reinvidicar o direito de deixar seus colegas de faculdade desprotegidos e expostos à violência alimentada por eles mesmos...

Gelson Domingos foi assassinado. Uma série de erros o levou à morte. Um deles foi pago com o dinheiro sujo do tráfico de drogas. a mesma droga que motivou a invasão à reitoria da USP.

Um adento: se você não gosta da polícia, direito seu. Mas lembre-se de não incomodá-los quando você ou sua família estiver em perigo. Chama o Batman.

Sem mais, meretíssimo.

sábado, 10 de setembro de 2011

Manhã Maior no Octógono!

A estréia de Daniela Albuquerque no quadro TOP FIVE do CQC não foi lá aquelas coisas. Além da moçoila ter errado em duas línguas a palavra octógono - vou me conter - recebeu uma zoada de Rafinha Bastos que a mesma acatou como ofensa. Percebe-se que o xingamento foi genuíno, impensado, espontâneo - exagerado, talvez. Por causa disso, a trupe teve que pedir desculpas por ter "ofendido" a moça, mas na semana seguinte ela VOLTOU ao mesmo quadro por motivo semelhante: falta de bom senso.

Parece que a moça não aprendeu a lição. E não é que essa semana ela fez de novo? Tá mais que provado que só está lá porque é mulher de figurão da RedeTV! pois por bom senso não é. Péssima apresentadora, percebe-se que ela simplesmente fica absorta quando há assuntos "relevantes" naquele programa. Simplesmente não entende. Simplesmente parece INCAPAZ de entender o que acontece a seu redor. Parece?

A falta de familiaridade para com assuntos que fazem parte de seu próprio mundo fazem de Daniela Albuquerque uma inútil opcional, que só aparece à frente das câmeras exatamente por esse motivo.

Sem mais, meretíssimo.

sábado, 9 de abril de 2011

Histórico Escolar

Se eu pudesse - quisesse, vai...! - expor meu histórico escolar, não o faria baseado em notas, mas sim em COMO me comportei durante todos esses anos. Todas as vezes em que fui para a diretoria por ter batido em um colega de classe porque ele me chamou de qualquer coisa que não vou me lembrar agora, mas que me deixou com raiva e me fez espancá-lo. As vezes em que matei aula, pulei as grades ou simplesmente saí pela porta da frente por ter ludibriado a "tia" que cuidava da porta. Quando ajudei um grupo de meninos a pular a grade do porão quando as inspetoras em peso estavam atrás deles. E as vezes em que alguém resolveu pegar no pé de um aluno em especial - no caso: a sala inteira.

Sim. Havia aquele menino, quieto, introvertido, mal falava com as pessoas. Sempre o último a ser escolhido no futebol - talvez por isso ele nem jogasse. Costumava ficar sozinho no intervalo, andando pelos cantos da escola - literalmente. Nenhuma menina se interessava por ele, nem ao menos os professores falavam com o garoto. Tanto que, quando ele saiu da escola, ninguém percebeu até o meio do ano. E ninguém soube explicar o motivo. Muito menos se interessaram em saber.

Esse guri era o alvo dos comentários mais absurdos e protagonista das cenas mais bizarras que poderiam ser sequer imaginadas. Eu só me lembro dele por causa disso. Mal podia compreender as palavras que ele dizia - língua enrolada é foda, mas a falta de vontade em abrir a boca piorava tudo - a menos que ele gritasse. E ele gritava. Ninguém podia tocar nele que ele se jogava ao chão gritando de dor, "ele me bateu, ele me bateu, ai, ai.ai...!" e os professores iam em seu socorro. Brincávamos, fingíamos auto flagelação, ele realmente se machucava, olhava pra gente buscando sorrisos, implorando aceitação. Até o dia em que, na missa na Catedral da cidade em homenagem ao aniversário da escola, ele explodiu. Sentado ao lado do altar, enquanto estava ocorrendo a missa, sobrepondo a voz do padre, ele não resistiu às provocações e proferiu em alto - MUITO ALTO MESMO - e bom som - por incrível que pareça - as palavras de baixo calão que selaram a sua saída da escola no ano seguinte e nunca mais a escola fez uma missa em horário de aula. Sim, ele gritou uma frase gigante, recheada de impropérios que fariam Dercy Gonçalves ruborizar. Todos aqueles que estavam sentados próximo a ele se esconderam nos bancos, deixando o rapaz enfrentar o olhar fulminante e as palavras ríspidas do pároco, sozinho, como se ele simplesmente quisesse ter falado aquilo. Entre lágrimas incessantes, ele ouviu de cabeça baixa tudo o que o padre disse - e não foi pouca coisa. Os professores censuravam seu silêncio com olhares frios, superiores, ignorando todos aqueles que estavam deitados nos bancos, se escondendo, rindo da situação - eu inclusive.

Quem nunca foi vítima de uma piada extremamente idiota na escola? Oras, ninguém! Piadinhas infames fazem parte do processo da escola. O fato de ser vesgo, usar óculos, ter um nariz maior, dente maior, usar aparelho, ser gordo demais, magro demais, muito branco, muito preto, menstruar e manchar a calça, falar o que não deve na hora errada... inúmeras possibilidades. Todo mundo é zoado na escola. Qual é o limite disso? Nunca saberemos.

Hoje eu sei que esse rapaz poderia ter entrado na escola atirando em todo mundo. O que o impediu? Nem sei. Não sei nem se ele está vivo hoje. Especularam que ele saiu porque estava doente, porque queria estudar na escola da cidade dele, mas ninguém soube ao certo o que aconteceu. Hoje eu sei que ele poderia ter atirado em todo mundo. Hoje sei que ele, se ainda estiver vivo, ele pode fazer uma loucura.
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